Há uns dez dias quero escrever este post, mas venho prorrogando por motivos que desconheço... na verdade eu bem sei quais são, apenas não queria admitir.
Fui a uma palestra de Rubem Alves há alguns dias. Espaço lotado é uma definição que não se aplica ao que encontrei por lá. Me veio à mente estes ônibus que partem do centro da cidade às seis horas da tarde em dias de semana: sem mais espaço para uma folha de papel. Assim estava o local.
Estava com dois amigos. Fomos nos acotovelando, dando um jeitinho aqui e outro ali, na tentativa de pelo menos ver o palestrante. E eis que descobrimos um pequeno espaço, no corredor, láááá na frente. Avançamos afoitos. E nos acomodamos. Em poltronas? Não, não, no corredor central. Quando paramos para respirar, percebemos que havíamos nos sentado ao lado de Rubem Alves! Prendemos a respiração e aguardamos a palestra.
E ele iniciou falando que naquela tarde havia visitado Manoel de Barros. Pronto. O que faltava. Dois poetas insuperáveis se encontrando, se admirando, se poetizando. Imaginei o diálogo entre os dois, falando sobre tudo e não dizendo nada; tentei imaginar a profundidade das frases trocadas, dos livros comentados, da vida partilhada...
Rubem falou por mais de uma hora, tempo que passou em questão de minutos. E, para honrá-los, despeço-me com a poesia de ambos:
"Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantadaou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma.
Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles".
(Rubem Alves)
***
"...que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc.
Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós".
(Manoel de Barros)
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