terça-feira, 12 de abril de 2011

Teatro: Calígula

O texto de Albert Camus é encenado por Thiago Lacerda, que transmite para os palcos toda a dramaticidade da obra. 

 Calígula é uma experiência única e perturbadora. Ao final da peça, o primeiro impulso é o de estranho incômodo que não nos faz desgrudar da poltrona. Depois vem a necessidade de ignorar o texto. Mas o impacto e o incômodo persistem e cobram uma resposta.

A obra perturba porque questiona certezas e razões até então inquestionáveis e estruturadas. É impossível enquadrar Calígula dentro de algumas classificações como louco, tirano, psicótico, psicopata, amante, inocente, devasso, maquiavélico... se o conseguíssemos, a inquietação seria menor. Bem menor. O fato é que ali estamos, num emaranhado de sentimentos e atitudes, desejos e vontades. Entre o dito e o não dito. Entre o cumprimento da vontade e o aprisionamento por regras. Ali temos redenção. Liberdade. Falta completa de sentido. Busca. Paradoxos. Faltam e sobram crenças. 

Em Calígula identificamos uma nossa verdade íntima. Talvez desconhecida, mas está ali. Pulsante.  Talvez dizê-lo amoral seja a melhor definição para suas atitudes. Não há regras. Assim como há; não há certo e errado. Há feito e não feito. Há o que foge ao padrão bem e mal.  No fundo Camus procura ir além do bem e do mal, do certo e errado. Busca igualar as coisas, acabar com as diferenças ilusórias, mostrar o vazio essencial que nivela tudo. Há uma força anárquica que zomba, questiona toda lei e ordem sobre as quais se tenta estruturar o mundo. Ele desnuda hipocrisias. Faz da moral uma máscara e não um rosto, uma realidade concreta. 

Há o desconcerto. E a busca por si mesmo.

Abaixo dois vídeos sobre a peça e fotos da apresentação da peça em Campo Grande, MS.



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