Ontem à tarde recebi a visita de algumas lembranças de uma infância que já parece estar velha, adormecida em algum lugar em mim. Nos sentamos na varanda e, entre uma xícara de café e uma torrada, falamos de antigos conhecidos, dos que um dia conhecemos e aprendemos a amar.
Falamos da velha senhora com hanseníase, que vivia em uma casinha, na esquina, próxima da escola onde estudamos. Nunca soubemos seu nome. Nunca a víamos, mas sabíamos muitas de suas histórias. Um dia a visitamos. Nós e a professora. A pequena casa se encheu de rostos curiosos... trinta ou mais. Ficamos a uma certa distância, evitando a aglomeração maior e, no fundo, evitando a presença da senhora, embora tivéssemos levado junto conosco a nossa companheira de aventuras, a compaixão.
Anos mais tarde, soubemos que veio a falecer. E nunca conhecemos seu rosto. Sua casinha foi demolida, mas suas histórias viraram lendas e continuam vivas.
A primeira infância não. Deixou de existir em muitas de suas variações e facetas. As mais belas se foram. Ou ficaram trancadas em algum porão escuro. Vez ou outra, como fantasmas, insistem em voltar à luz do sol. Então tomamos um café com torradas na varanda. E falamos do que fomos.
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