quarta-feira, 23 de março de 2011

Uma flor nasceu na rua

Hoje me lembrei de Drummond, ao me dirigir para o trabalho.

Geralmente caminho rápido, quase sempre em cima da hora e, naquele período da manhã onde somos mais movidos pelo instinto do que pela razão, a percepção do mundo à minha volta é extremamente prejudicada. Pareço ainda dormir.

Mas hoje não. O dia estava tão belo. Prenúncio de inverno, clima agradável, brisa leve... e, de repente, me deparei com ela, a me olhar tímida, mas relutante a não baixar os olhos (ou as pétalas). Uma flor. Com sua cor peculiar, uma mistura de vermelho, rosa e roxo. Tímida. Apenas uma flor. Que nascia do asfalto. Rodeada por concreto. Singela, tímida, vulnerável... mas capaz de vencer o concreto ou, parafraseando Drummond, "o tédio, o nojo, o ódio...". 

Uma flor em meio ao asfalto, na rua. Talvez neste momento ela já tenha sido massacrada, destruída por pés não atentos; mas insistiu em viver, em fazer valer a pena. O frescor que emanava de si pela manhã é prova disso. Ali, em meio ao concreto, me ensinou a viver.

Despeço-me, mas deixo-vos na companhia de Drummond:

"Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio".

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