Outro dia me pediram para ensinar poesia.
Fiquei mudo.
Olhei boquiaberto para o autor da pergunta e, incapaz de formular uma resposta questionei a mim mesmo: onde ele esteve durante todos os amanheceres? Onde se encontrava durante todos os pores do sol (sem me importar se usava hífen ou não, com nova ou antiga ortografia...); será que ele nunca havia presenciado, meu Deus, o voo das borboletas ou o canto dos pássaros? Nunca havia notado as gotas de orvalho em manhãs de primavera? Ou a chuva em meios de tarde de outono? Onde vivia não haveriam estrelas cadentes, luares atordoantes, ondas revoltas, brisa suave, colorido das flores, sorrisos de crianças, sabedoria dos idosos, inconveniência dos amantes... não havia em seus livros de estudo a presença de Manoel de Barros, Drummond, Adélia Prado, Rubem Alves, Vinícius, Cora Coralina e Cenira, minha mãe? Não existiam em seu mundo os abraços acolhedores, os beijos intensos e os adeuses desejosos de reencontro?
Incapaz de dar uma resposta, deixei-me ficar ali. por longo tempo. Quando consegui balbuciar: "poesia não se ensina... se vive..."... ele já havia partido inconformado!
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