sábado, 26 de fevereiro de 2011

Abandono

A primeira sensação foi de completo vazio. Ausência. A sensação de que havia um mundo grande demais que lhe coubesse ou  que pudesse lhe acolher; um mundo para chamar de seu.

A segunda sensação foi de completo desespero. De espanto diante do vazio imensurável. Angústia inconsolável. Em seguida veio a necessidade de nominar o que sentia, embora nenhum substantivo parecesse suficientemente capaz de fornecer definição eficaz para o que lhe assaltava.

A terceira sensação, num misto confuso entre todas, foi  a cruel constatação, nua  e crua, posta diante de si: abandono. Abandono em estado bruto. Abandono sem aviso prévio, sem consideração ou comiseração. Simplesmente abandono. Encolhido no chão frio, sentia os músculos enrigecidos e o buraco no peito, o nó na garganta e as lágrimas quentes clamando espaço. O choro veio; mais tarde do que precisava que fosse, mas veio; lavou a dor, deixando-a exposta; ferida em carne viva. Necessitou braços envoltos em si, em abraço curativo. Encontrou ausência, desespero.

Como pobre criança com medo em noite escura, buscou seu bálsamo como pode. Adormeceu para a vida.

Jean Lucy
jean.csdb@hotmail.com

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