Estava um domingo repleto de sol... e, consequentemente o calor acompanhava aquela claridade toda; estava na casa de uma família amiga... almoço de domingo, crianças correndo, conversa alta, dia transcorrendo de forma tranquila, amena.
E lá estava ela: a amoreira. Meus olhos foram atraídas instantaneamente para aquele fenômeno: amoreira repleta de frutos que pendiam de seus galhos às dezenas, em várias tonalidades de cores: verdes, vermelhos, mesclados (entre verde, vermelho e negro) e as que seriam, com certeza, minhas vítimas, as que se apresentavam gordas, macias, negras, suculentas.
Não era uma árvore imensa, imponente, pelo contrário, pequena, frágil, galhos finos... mas repletos de frutos. Não hesitei um segundo: os galhos mais baixos foram os primeiros, os olhos varrendo a região à procura de mais e mais, o doce sabor invadindo meu paladar... e trazendo à tona lembranças que sequer sabia ainda eram vivas dentro de mim.
Recordei-me de uma infância há muito esquecida em meu afã de ser gente grande: éramos um grupo de dez, talvez quinze primos, nunca soube. E, em nossos encontros sempre uma árvore por perto, uma mangueira, uma laranjeira, e outras inúmeras árvores frutíferas na casa de meu avô que sempre convidavam à escaladas. E entre elas, uma amoreira. Grande. Frutos doces. Raros (quem chegasse primeiro sempre os conseguia, deixando apenas os azedos para trás). "Você gosta de amora? Vou falar pro seu pai que você namora..." Sempre havia alguém que caía na pegadinha, intencionalmente ou não.
E ali estava eu, criança eterna. Amoreira solidária. Infância que nunca acaba.